ALÍVIO MISTURADO COM VERGONHA!
Não sei se devo celebrar ou me indignar. A captura do ex-deputado Carlão de Oliveira, após 17 anos foragido, deveria ser motivo de comemoração, mas não consigo evitar um desconforto profundo diante da falência moral de nossas instituições. Como jornalista que acompanhou o caso desde o início, posso afirmar sem hesitação: o que aconteceu não é apenas uma falha do sistema judiciário — é um escárnio descarado contra o povo rondoniense.
VAMOS RELEMBRAR ?
Os fatos: em 2006, Carlão foi o arquétipo do crime de colarinho branco ao orquestrar o infame "Mensalão Rondoniense", drenando R$ 70 milhões (mais de R$ 200 milhões em valores atuais) dos cofres públicos, recursos que deveriam ter sido aplicados em escolas, hospitais e infraestrutura para a população. Em 2008, quando finalmente condenado, o que fez nosso ilustre ex-presidente da Assembleia Legislativa? Simplesmente desapareceu!
E o pior: durante, nossas autoridades, ou por ineficiência ou por conivência, foram incapazes de localizar um homem público tão notório, cuja imagem estampou jornais e era conhecida por qualquer rondoniense. Enquanto isso, o sistema judiciário, tão ágil na captura de pequenos infratores, demonstrou uma lentidão covarde quando o alvo era um político poderoso. Qual a mensagem que isso transmite? Que a justiça brasileira se curva diante do poder e do dinheiro.
QUEM FOI O X9 QUE DELATOU A LOCALIZAÇÃO DE CARLÃO ?
Certamente Carlão viveu livremente durante todo esse tempo, transitando por diferentes estados e até países vizinhos. Não era um homem escondido, mas alguém que continuou usufruindo da vida boa, protegido por uma rede de cumplicidade que envolve figuras ainda hoje em cargos públicos. É impossível acreditar que um foragido tão notório tenha permanecido impune por tanto tempo sem a conivência de autoridades.
- Como que a policia chegou no Carlão depois de 17 anos ?
- Será que alguém foi o X9 dessa prisão ?
- Quem o protegeu?
- Quem fechou os olhos?
- Quem lucrou com seu silêncio?
São perguntas que exigem respostas urgentes.
A captura de Carlão revela uma ferida aberta na justiça brasileira: a existência de dois sistemas paralelos — um implacável para os pobres e anônimos, e outro complacente e vagaroso para os poderosos. Um cidadão comum, pego furtando um celular, é rapidamente encontrado e condenado, enquanto um político que desvia milhões permanece livre por quase duas décadas. O dano causado por essa impunidade vai muito além dos milhões desviados. É um golpe na confiança da população nas instituições democráticas. É a confirmação de um cinismo popular que diz: "A justiça não é para todos."
E mesmo agora, com Carlão finalmente preso, já se fala em manobras jurídicas para reduzir sua pena. Não seria surpresa se, em poucos meses, assistíssemos a uma nova farsa jurídica que o colocasse novamente em liberdade, talvez "cumprindo pena em regime domiciliar" em alguma mansão.
O caso Carlão de Oliveira deve ser um ponto de inflexão. Precisamos exigir uma investigação rigorosa sobre quem facilitou sua fuga e permitiu sua permanência foragido. Precisamos de reformas profundas no nosso sistema judiciário, que eliminem privilégios processuais que só favorecem políticos corruptos. E, acima de tudo, precisamos que a sociedade rondoniense não aceite mais essa grotesca disparidade na aplicação da lei.
A prisão de Carlão, ainda que tardia, deve ser apenas o começo — não o fim — dessa história. Que sirva como um catalisador para uma transformação profunda na forma como tratamos a corrupção política em nosso país. O povo rondoniense merece saber a verdade completa e exige uma justiça que não seja um privilégio de poucos, mas uma realidade para todos, sem importar o poder político ou econômico.
A pergunta que fica é: quantos outros "Carlões" ainda estão por aí, protegidos por um sistema que finge não vê-los? Até quando aceitaremos que a justiça, para os poderosos, seja apenas uma sugestão inconveniente?
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