Enquanto o Hospital João Paulo II apodrece em silêncio, a fila por exames cresce como mato em terreno abandonado. Mas agora, aos 45 do segundo tempo (ou seria dos oito anos?), o Governo de Rondônia corre contra o tempo — não para construir o prometido novo hospital, o famoso HEURO, mas para contratar uma empresa emergencialmente. O valor? Um modesto cheque de meio bilhão de reais.
Porque, claro, se tem algo que não falta é dinheiro — só não aparece o hospital.
R$ 500 MILHÕES PARA GESTÃO TERCEIRIZADA: QUANDO O PLANO B VIRA O ÚNICO PLANO
No dia 13 de abril, quase à meia-noite (22h54, para ser exato), foi publicado no Portal Nacional de Contratações Públicas o aviso de que o Governo abriria uma seleção emergencial para contratar uma empresa privada que deverá fazer aquilo que o Estado aparentemente desistiu de tentar: gerir os hospitais João Paulo II, AMI e HRRO.
A empresa vencedora será responsável por:
- Gerenciar estruturas físicas (essas que caem aos pedaços);
- Assumir equipes (essas que protestam diariamente);
- Fornecer insumos, equipamentos e materiais (esses que faltam até para exame simples);
- Executar os serviços médico-hospitalares (esses que viraram luxo em vez de direito).
Tudo isso enquanto o povo pergunta: cadê o HEURO?
OITO ANOS DE PROMESSAS, UMA LICITAÇÃO DE ÚLTIMA HORA E UM MONTE DE PALAVRAS BONITAS
O secretário de Saúde, Jefferson Rocha, diz que a medida visa “suprir a carência de profissionais e garantir a continuidade dos serviços”. E, num gesto quase poético, garante que a gestão seguirá pública, “com fiscalização integral do Estado”.
A mesma fiscalização que não viu o caos no João Paulo II se instalar? Interessante.
Já o governador Marcos Rocha classifica a medida como um avanço na saúde pública. Claro. Porque nada diz “avanço” como terceirizar por R$ 500 milhões enquanto o hospital prometido desde 2018 continua sendo só uma maquete em PowerPoint.
O MODELO FUNCIONA EM OUTROS ESTADOS... MAS O HEURO ERA PARA FUNCIONAR AQUI, LEMBRA?
O governo jura que esse modelo de gestão já deu certo em Guajará-Mirim e até no Rio Grande do Sul. Mas a pergunta que não quer calar é: por que estamos falando de modelos de fora, se o HEURO foi prometido como solução definitiva aqui mesmo?
Guajará teve empregos. Porto Velho teve anúncios. E agora, meio bilhão de reais para apagar incêndio com gasolina terceirizada.
ENQUANTO ISSO, NO MUNDO REAL: 11.595 PESSOAS NA FILA DE TOMOGRAFIA E MAIS DE 41 MIL POR RESSONÂNCIA
Sim, você leu certo. Onze mil, quinhentas e noventa e cinco pessoas esperando por uma tomografia.
Mais de quarenta e uma mil aguardando ressonância magnética.
E quase 2 mil pacientes precisam de sedação até para fazer exame básico.
Mas o Governo está preocupado mesmo é com um “plano de emergência”, lançado com pompa e uma pitada de desespero eleitoral, que mais parece um “tapa buraco institucional”.
E O HEURO? FOI ABDUZIDO? ENTERRADO? OU VAI APARECER SÓ NA PRÓXIMA ELEIÇÃO?
Em 2018, o HEURO foi apresentado como a redenção da saúde pública. Seria moderno, equipado, com UTIs, heliporto e até Wi-Fi — uma espécie de hospital do futuro, direto das promessas de campanha.
Estamos em 2025. Nenhuma parede foi levantada. Nenhuma cama foi instalada. O que temos é um novo contrato milionário, um edital emergencial e uma pressa que só aparece quando o calendário eleitoral começa a sorrir.
O POVO MERECE RESPOSTAS — E NÃO MAIS UM POWERPOINT COM A FOTO DE UM HOSPITAL QUE NUNCA EXISTIU
A população de Rondônia não aguenta mais desculpas, notas técnicas ou discursos cuidadosamente ensaiados.
Não aguenta mais ver o dinheiro público escorrer pelo ralo da “gestão eficiente”, enquanto pacientes morrem na fila esperando um simples exame.
Não aguenta mais ver o HEURO ser a estrela das promessas e o fantasma da realidade.
O VERDADEIRO “HOSPITAL DE RETAGUARDA” É A ESPERANÇA DO RONDONIENSE
ELA FICA LÁ ATRÁS, SEMPRE POSTERGADA, SEMPRE ULTRAPASSADA POR UMA NOVA LICITAÇÃO
R$ 500 milhões agora. Mas e o HEURO?
Ah, o HEURO...
Esse continua onde sempre esteve:
no limbo entre o marketing político e o esquecimento administrativo.
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